Fruto de Erva-mate: potencial científico assim como as folhas

Fabiano Carvalho Brito, biólogo e mestre, e doutor em ecologia desenvolve pesquisas com o uso dos frutos da Erva-mate no controle do caramujo praga do arroz. Ele palestrou no 8° Congresso Online da Erva-mate (CONAMATE) e citou desde a importância história, cultural e social da planta até o seu estudo mais específico relacionando a existência de saponinas e compostos fenólicos, e outros componentes.

"As folhas de Erva-mate têm uma abrangência maior de estudos", explica. Isso por conta dos interesses comerciais. Contudo, os frutos e sementes também são importantes. Saponinas estão presentes em frutos verdes e se sabe de que eles são rejeitos da indústria. Há uma mudança ao longo do desenvolvimento dos frutos até o seu amadurecimento, passando da cor e do tamanho, e mudando os compostos de acordo com o estágio de desenvolvimento.

Esses compostos mudam ao longo do processo do fruto à sementes. Na Embrapa, durante o doutorado, Fabiano observou diferentes estágios de maturação e dinâmicas diferentes de uma cultivar para outra. Analisou diferentes respostas, mas rápido amadurecimento dos frutos. Diversos estudos foram realizados a partir de 2007 e apurados os componentes e seus potenciais existentes nos frutos, desde verdes até maduros.

A pesquisa de Fabiano mostrou, por exemplo, que substâncias naturais também podem ser tóxicas. No seu caso, observou e testou compostos em ensaios científicos com peixes e caramujos. Investigou ainda a segurança potencial e ambiental do uso deles. Entre as descobertas complexas, em cada estágio de maturação se viu um tipo majoritário de composição fitoquímica. Compostos de defesa para defender o embrião no início.

Se saponinas e taninos serviram de proteção na fase inicial, depois se notou certa semelhança do estágio verde para o maduro, contudo ao madurar a característica de moléculas nutritivas facilita a dispersão por aves, por exemplo. Encontradas antocianinas, carboidratos, açúcares e gorduras nessa fase, pela pesquisa. Ainda existindo saponinas, com espumas na diluição dos compostos.

O passo seguinte foi a starp Ilexo para avaliar, com parceiros, outros tipos e desenvolvimento de um biopesticida para a produção de arroz. Enquanto uma série de ensaios, em parceria com o Instituto Butantan, concluiu que o extrato de frutos de Erva-mate não destrói os caramujos. Bem como aos causadores de esquistossomose, sem efeito. Mas para as cercárias (outro parasita) teve efeitos importantes, na pesquisa em andamento.

O especialista citou a proliferação de estudos sobre frutos de Erva-mate, a partir de 2016. Fazendo comparativos, inclusive, com outros tipos de frutificações. Dentre outras coisas, se descobriu que os frutos verdes apresentaram compostos fenólicos totais superiores ao chá preto ou verde. Flavonoides, polifenóis, metilxantinas e taninos foram detectados em teores dez vezes menos do que se encontra nas folhas.

Na literatura científica, conforme o pesquisador, há inúmeras potencialidades a serem exploradas comercialmente. Desde limpadores, pela existência de saponina, aditivos em suplementos alimentares, cosméticos e ração animal, melhorando qualidade de digestão e até a qualidade da carne. Em síntese, toda a longa pesquisa demonstra os potenciais existentes em frutos de Erva-mate, apesar de menos estudados que folhas, mas também interessantes.

Com informações e imagem do CONAMATE.

Há interesse potencial na Erva-mate para o resgate de carbono

Reflexões sobre a cadeia produtiva da Erva-mate, mercado agrícola, emprego e renda, não apenas para o Rio Grande do Sul, mas para outros locais. A professora Sibele Vasconcelos de Oliveira, doutora em Agronegócios pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e mestra em Extensão Rural pela mesma instituição trouxe o tema "Do Campo à Cuia", abordando cultura, economia e sustentabilidade associados ao mercado ervateiro no 8° Congresso Online da Erva-mate (CONAMATE).

A palestrante citou o fato do Brasil sediar esse ano a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP30). "Nos evidencia também quanto uma nação potencial na contribuição ao atingimento dos objetivos de desenvolvimento sustentável", frisou. Associando esse campo com os biomas do território nacional e sua infinidade dos produtos existentes, tendo a Erva-mate como uma dessa atividades sustentáveis.

Segundo a professora, o Mate tem ganhado visibilidade estando dentre as 13 práticas tecnológicas consideradas potencialmente mitigadoras pelo Plano ABC+, do Ministério da Agricultura. Isso para enfrentamento às condições climáticas adversas, sendo a Erva-mate com potencial para resgate de carbono. Para tanto, ela citou a Embrapa e sua importância no desenvolvimento de aparato técnico para promover essa resposta à sociedade.

Sibele associou a Erva-mate como atividade representativa por promover emprego para além do setor produtivo, no processo industrial, tipo de cultura alternativa para manter jovens no meio rural com oportunidade econômica. Sobretudo no âmbito da agricultura familiar onde é possível criar e fortalecer mercados com escala de produção. Esse manejo florestal sustentável é um dos pontos diferenciais, nessa linha de entendimento.

Tudo isso sustentado em saberes tradicionais, mantendo quesitos culturais e simbologia e identidade atribuída ao consumo do Mate. Proporcionalmente a Erva-mate está mais presente em pequenas propriedades, destacada a presença tanto no Paraná quanto nos dois estados vizinhos. Sendo o 2° maior produto de extração vegetal, apenas atrás do açaí e com perspectiva de crescimento produtivo no Brasil.

A professora lembrou, no caso do Paraná, do reconhecimento da Organização das Nações Unidas como Patrimônio de Sistemas Agrícolas de Importância Mundial, sendo um dos 95 sistemas reconhecidos em 28 países. Sibele mencionou os destinos para exportação da Erva-mate e a busca por novos compradores, em meio ao desenvolvimento de novos produtos a partir do Mate. Constituindo-se num desafio emite.

Com informações e imagem do CONAMATE.

Cadeia produtiva e a estratégia para o Mate com baixo carbono

A engenheira agrônoma da Fundação Solidaridad, Caroline Olias, coordena o Programa de Erva-Mate da Fundação Solidaridad. No 8° Congresso Online da Erva-mate a profissional trouxe o assunto sobre a agricultura de baixo carbono para a cadeia produtiva ervateira. Dentre outras coisas, a entidade traz a Carbon-Matte - primeira calculadora de carbono voltada para o setor produtivo do Mate e visando o fortalecimento sustentável setorial.

A Fundação existe há 55 anos e 15 atuando no Brasil em diversas cadeias produtivas, oito ao todo, em mais de 300 municípios brasileiros. A Erva-mate, nos três estados da região Sul, é o foco central regional da Solidaridad e existe desde 2019 com sua base no Rio Grande do Sul. Mesmo diante do cenário atual, Caroline entende que a situação de ‘crise’ é sim momento para 'virada de chave', contudo sustentada em melhoria das práticas agrícolas e abertura de novos mercados.

Dentre os projetos, o Territórios da Mata - na região de Machadinho - é um dos expoentes apresentados. 250 hectares e 70 famílias foram beneficiadas no sentido de regularização de passivos ambientais e restauração ambiental. Em 120 hectares, também, foram implantados novos Sistemas Agroflorestais (SAFs). Esse trabalho foi realizado com a Cambona 4, além de outras espécies nativas para o trabalho dentro desse sistema produtivo regional.

Na região do Alto Uruguai e Santa Catarina o projeto Aliados pelo Campo é desenvolvido em conjunto com as empresas Leão Mate e Coca Cola. Um caderno de Campo da Cultura da Erva-mate é a ‘cartilha’, o manual, de orientação ao produtor, também subsidiado no Erva 20 da Embrapa. Desde a muda, até a condução e manejo do erval são orientados, bem como, a cobertura de solo, o manejo e a adubação correta. Além do combate às pragas que atingem os ervais.

Quanto à colheita, o processo mais indicado é para ter menor 'agressão' e poda de melhor qualidade para manter a sanidade da planta e a retomada da brotação, posteriormente. A renovação de erveiras mais antigas é outro trabalho orientado, num período adequado para ser o menos agressivo possível. "Nem no forte do verão e nem no forte do inverno", explica a engenheira agrônoma sobre esse processo em que a Fundação atua com produtores.

‘A agricultura diante das mudanças climáticas’ é outra linha de trabalho da Solidariedad. “A Erva-mate tem um potencial muito grande", explica Caroline Olias sobre o resgate de carbono, mas dentro de parâmetros técnicos. É onde entra o Carbon-Matte desenvolvido na parceria com a Embrapa. Apesar de não ser para certificação, o aplicativo permite medir os estoques de carbono o orientar o manejo e condução dos ervais.

Também existem seis unidades de monitoramento, junto da Carbon-matte "uma ferramenta em formato de planilha eletrônica para medir os estoques de carbono e emissões de gases de efeito estufa (GEE) durante o cultivo de Erva-mate", cita a entidade. Tanto que permite a partir dos dados, seja de produção a pleno sol ou florestal, calcular tanto as emissões quanto as remoções de carbono do sistema e fontes de emissões de dióxido de carbono e metano.

Com informações e imagem do CONAMATE.